Em visita ao Brasil, o ex-juiz espanhol Baltasar Garzón defendeu nesta terça-feira uma investigação sobre o impeachment relâmpago de Fernando Lugo no Paraguai, ocorrido no mês passado.
Garzón disse que o processo no Congresso, que durou apenas dois dias, não foi “limpo”. “Aconteceu uma espécie de golpe de Estado, um golpe branco, de forma fraudulenta. Deve haver uma investigação em profundidade sobre o que aconteceu e por que não se optou por outra possibilidade política.”
O ex-juiz está em Porto Alegre a convite do governador Tarso Genro (PT). O espanhol se notabilizou nos anos 1990 ao ordenar a prisão do ex-ditador Augusto Pinochet por crimes contra a humanidade durante a ditadura no Chile.
No começo do ano, ele perdeu o cargo de juiz ao ser condenado por pedir escutas consideradas arbitrárias em um processo sobre corrupção que envolvia um partido político.
Em entrevista coletiva, ele alegou que a sentença “estava pronta antes de começar o julgamento” e obedece a “circunstâncias que não vêm ao caso de entrar neste momento”.
Ele argumentou que ordenou as escutas em uma cadeia porque integrantes do grupo investigado estavam comandando um esquema de corrupção, mesmo presos, por meio de seus advogados.
“Os advogados estavam entrando a serviço da própria organização e eu não posso deixar essa situação de impunidade”, disse.
Falou ainda que não havia nenhuma lei que impedisse a ordem e que a determinação havia recebido o aval de outras instâncias, como “fiscais”.
Garzón também chegou a ser processado por investigar crimes da ditadura de Francisco Franco na Espanha (1939-1973) e disse que houve pressões para “acabar com toda a possibilidade de apurar” esses acontecimentos.
“Setenta anos [depois] desses crimes, não há uma reconciliação real na Espanha. A prova é que, no momento em que se abriu a causa sobre o franquismo, aconteceu tudo isso nestes últimos cinco anos e foi muito grave.”