“Contexto histórico para assassinar Jango não faltava”. É o que sustenta o historiador Jair Krischke, coordenador do Movimento Justiça e Direitos Humanos e uma das testemunhas ouvidas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) sobre as circunstâncias da morte do ex-presidente João Goulart, deposto pelos militares no golpe de 1964.
Esta suspeita será objeto de estudo nos próximos dois meses, com a exumação do corpo do ex-presidente. O governo acertará nesta terça-feira (17) os últimos detalhes para a investigação.
As suspeitas são de que a morte de Jango, em 6 de dezembro de 1976, não teria como causa uma simples “enfermedad”, como acusa o atestado de óbito, lavrado em Mercedes, na Argentina. O trabalho dos peritos será de verificar se Jango foi envenenado.
Além das provas materiais que podem indicar a verdadeira causa da morte, o historiador Jair Krischke aponta uma série de documentos do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), que indicam a preocupação dos militares com um “possível retorno” dos presidentes depostos por ditaduras latino-americanas na década de 1970, entre eles, o brasileiro João Goulart, deposto pelos militares no golpe de 1964.
Na opinião de Krischke, esse temor pode ter motivado o possível assassinato. “Os documentos são claros. Além de indicar o medo da volta havia ordens expressas para prender o ex-presidente, caso ele entrasse no Brasil”, explicou o professor.
Jango, como o ex-presidente era conhecido, passou 12 anos no exilio, entre Uruguai e Argentina. A história “oficial” de sua morte aponta que ele ingeriu medicamentos antes de dormir, receitado por um médico de Lyon, na França, e morreu vítima de uma taquicardia na madrugada.
No entanto, essa versão é bastante contestada. Não houve autopsia que confirmasse os motivos da morte. Além disso, nunca houve comprovação de que esses remédios, que seriam importados pelo próprio presidente da França, foram mesmo receitados. “O prontuário de atendimento de Jango na clínica francesa nunca foi encontrado”, contou Krischke.
Deixe um comentário